Aldeia do Castelo

Blogue para a comunidade da aldeia do Castelo, concelho de Mação

PROF. DR. EUGÉNIO ANTUNES TROPA



Nasceu no lugar de Castelo, freguesia e concelho de Mação, a 27 de Junho de 1910, filho de Ricardo Tropa e Josephina Pires Antunes.

A sua vida foi uma contínua progressão técnica, científica e profissional, e exemplar na rectidão com que sempre pautou a sua vida quer profissional quer como cidadão.
Aprendeu as primeiras letras em Mação, os primeiros anos liceais em Cernache de Bonjardim, para depois frequentar os liceus de Portalegre e Coimbra, terminando neste a instrução secundária.
Diplomado pela Escola Superior de Medicina Veterinária de Lisboa, em 1933, estudou posteriormente nas Faculdades de Medicina de Lisboa e do Porto, e Microbiologia, na Faculdade de Medicina de Paris.
Especializou-se em Micologia e Imunologia, no Instituto de Moedling em Viena de Áustria.
No Laboratório de Patologia Veterinária do Porto preparou a sua tese de Doutoramento que concluiu em 1939.
Professor Catedrático da Universidade Técnica de Lisboa, na Escola Superior de Medicina Veterinária na qual leccionou de 1949 a 1963.

Foi extraordinariamente importante, à época, para o nosso país a sua vida de Técnico Investigador e Cientista.
Colaborou na Campanha de Produção Agrícola (Janeiro de 1934).
Prestou serviço na Intendência Pecuária de Évora (Abril de 1934) onde desempenhou as funções de bacteriologista do Laboratório de Patologia Veterinária, que funcionava junto daquela Intendência e cuja montagem se lhe deve em grande parte
Pioneiro na organização técnico-científica das acções que vieram a ser adoptadas em 1955, na Campanha de Melhoramento da Qualidade Higiénica do Leite - 1938
Colaborou na Campanha Profiláctica dos Bovinos Leiteiros em Évora e em Setúbal, chefiando esta última.
Foi colocado no Laboratório de Patologia Veterinária e mandado prestar serviço na Intendência de Pecuária do Porto como adjunto do Intendente, onde montou o Laboratório de Patologia Veterinária do Porto, laboratório que passou a dirigir.  
Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias em 1946
Secretário-Geral da Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias em 1948
Presidente da Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias de 1951 a 1952
Fundador da Estação de Estudos de Tecnologia Animal-1957
Foi o primeiro Presidente da Assembleia-geral da Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias de 1953 a 1955
Presidente dos Serviços de Campanha de Fomento Pecuário - 1965
Foi durante anos - até falecer - chefe do Grupo de Laboratórios de Química e Biologia do Instituto Nacional de Investigação Industrial.
Director-Geral dos Serviços Pecuários, de 1963 a 1968.

Agraciado com os Graus de Grande Oficial do Mérito Agrícola, de Espanha, e do Mérito Agrícola e Industrial, de Portugal.
Pelos seus trabalhos de Investigação, contribuiu, profundamente, para o progresso da Tecnologia Alimentar no nosso País
Com o falecimento de Eugénio Antunes Tropa em 10 de Novembro de 1968, a Medicina Veterinária Europeia perdia um dos seus profissionais mais distintos e Portugal o seu mais alto valor contemporâneo.
                     CASTELO - a casa onde nasceu o Professor Doutor Eugénio Antunes Tropa

        Almoço no Castelo na Casa da Tapada Lameira (finais dos anos cinquenta)
     Da esquerda para a direita: Abel Tropa, Eng. Arthur Tropa, Artur Antunes Tropa (de costas),
     Henrique Antunes Lourenço, Dr. Eugénio Tropa, Cremilda Tropa, Dr.ª Ana Emília Resende Tropa
     e Eng. João Antunes Tropa.

Padre Júlio Tropa Mendes



Passaram quase três anos desde que na manhã de 25 de Janeiro de 2012 a notícia do falecimento do Padre Júlio Tropa Mendes, abalou profundamente todo o Castelo. Desaparecia mais um dos seus filhos dilectos, que todos os anos, vindo do Algarve aqui passava uns dias rodeado de familiares e amigos, aproveitando para visitar a sua horta - a “Vinha da Ribeira”.     
Nasceu a 26 de Dezembro de 1934 na povoação do Castelo, filho de António Mendes e de Benvinda Tropa, neto paterno de Joaquim Mendes e Tomásia Marques, neto materno de Francisco Tropa e Maria Joaquina.
Nos tempos de Seminário, nos períodos das férias escolares estava sempre presente nos passeios e picnic’s aos nascentes da Chão do Brejo, na dinamização e ensaio das “récitas” ou nas festas anuais da comunidade.
 É o que vemos nas fotos tiradas em meados dos anos cinquenta, quer fosse com o grupo que tinha ido em passeio à “Vinha da Ribeira”, apanhado no meio do linho em flor, quer acompanhando a equipa de futebol do Castelo “Os Flechas”, no campo do “Vale dos Castanheiros”.
Ordenado na Sé de Faro a 15 de Julho de 1962, pelo bispo D. Francisco Rendeiro, o padre Júlio Tropa Mendes era pároco de Santa Bárbara de Nexe, cargo que exercia há 43 anos desde 1969. Licenciado em História pela Universidade Clássica de Lisboa foi ainda docente nas Escolas Secundárias de Lagos e de Loulé.
Cooperador do pároco de Santa Maria de Lagos durante dois anos (1962 a 1964), pároco de N. Sª da Luz de Lagos e de Bensafrim durante cinco anos (1964 a 1969), e ainda de Estoi durante 24 anos (1987 a 2011). Era também responsável pelo Sector das Migrações e Comunidades Étnicas da Diocese do Algarve, missão que desempenhava desde 25 de Outubro de 1973.
 A sua vida de sacerdote fica marcada pela relevante obra edificada, de assistência social, de que são testemunhos a construção do Centro Cultural e Social da Paróquia de Santa Bárbara de Nexe que inclui um Lar de Idosos e a Creche 'A Joaninha'; e do Centro Comunitário da paróquia de Estoi, que integra o Lar 'Padre Júlio Tropa' e a Creche 'O Caracol'.
Fica-nos a sua memória e a recordação da sua amizade.


(da esquerda para a direita) : Eugénio Gaspar, Luís Tropa Alves, Maria Manuela Alves Egreja, Isilda Rosa Lobo, Maria Júlia Marques Mira, Maria do Céu Marques Machado, António Tropa Alves, Artur Marques Barbeiro e Júlio Tropa Mendes.





 Primeira fila (da esquerda para a direita): Américo da Silva Gaspar, Manuel António Egreja, Artur Marques Barbeiro, José do Rosário Luís e António da Silva Granja.; Segunda Fila: Eugénio Gaspar Rosa, Etelvino Lobo Alves, Etelvino Marques Canhoto, Raul Dias Antunes, Américo Marques (guarda-redes), Manuel Marques Pereira e Júlio Tropa Mendes. 

CASTELO - UMA TERRA (QUE FOI) DE RESINEIROS



 
Contavam os mais antigos que aqui o que havia era mato, castanheiros e oliveiras, e que pinheiros, só existia um na Lameira, para os lados da “Lagoa” que foi cortado para fazer uns teares para o Castelo, ficando o local a ser conhecido até hoje por “Teares”.

Mas foi nas primeiras décadas do século passado, em toda a zona circundante da aldeia, nas encostas dos montes, que foram crescendo pinhais dos quais era aproveitada a madeira e extraída a resina (para pez louro e aguarrás), principais fontes de receita das famílias que com esse dinheiro mantinham a casa durante o ano, pagavam as obras nas habitações e ajudavam os filhos quando casavam. A resinagem e a exploração de produtos resinosos tiveram, nos anos 40, um significativo incremento nesta região, pois foi a partir dessa data que o pinhal atingiu um crescimento que a permitia, embora o ciclone de 15 de Fevereiro de 1941 tenha deixado um rasto de destruição em que foram derrubados pelo vento grande parte dos pinheiros do Castelo.

O processo de recolha começou com feridas profundas, feitas a enchó, processo logo substituído pelo sistema Francês (ou de Hughes) em que as feridas eram pouco profundas e depois, nos anos cinquenta, pela resinagem química ou “à americana”, utilizando ácido sulfúrico, com vantagens na produção média por ferida (quase o dobro) e na menor “agressividade” para as árvores.

As operações de resinagem tinham o seu início em 1 de Março e terminavam a 30 de Novembro, mas o “descarrasque” podia iniciar-se logo em Fevereiro. Consistia essa preparação em aparar ou descascar a “estoura” (carcódia do pinheiro) no local onde ia ser feita a sangria. Depois colocavam-lhe as bicas, um rectângulo de metal, que servia de bica à resina, e espetavam as estacas, suporte para o “cacaréu”, o púcaro de barro vermelho.

Estava pronta a primeira fase da operação. Depois, já no Verão, era feita a “renovagem” que consistia em fazer uma ferida no pinheiro, de uns 9 cm de largura e 20 cm de altura. A partir desse momento a resina começava a cair para a bica e desta para o púcaro. Esta operação da renovagem, “ir à volta”, era feita de 4 em 4 dias no sistema francês e de 13 em 13 dias no americano, e a sangria ia sempre aumentando.

Quando os resineiros verificavam que as tigelas estavam cheias, procediam à recolha da resina para as latas e depois para grandes barris de madeira, colocados em locais certos, onde os carros, primeiro de bois, depois a muares e por último camionetas, os pudessem ir buscar com destino às fábricas de transformação. O transporte das latas pelos resineiros/resineiras era trabalho difícil e desgastante, só possível aos mais fortes: além do peso quando cheias, esgotante era o percurso com elas ao ombro ou à cabeça, por ladeiras íngremes, pelos montes pedregosos, sem caminhos…

Esta actividade teve no Castelo uma grande importância como se pode depreender pela extensa lista de habitantes do Castelo que pagaram contribuição industrial (grupo C) como empresários de extracção de seiva do pinheiro. Foram eles, Anacleto Pereira, João Dias, Joaquim Marques da Silva, Manuel Cêpa, Delfim Marques, João António Luís, Leal da Silva Dias, Manuel da Silva, António Barbeiro, Artur Lobo, Francisco Pina Dias Antunes, João Lobo, Joaquim Marques Morgado, Joaquim Mira Egreja, Manuel Morgado Novo, João Sebastião, Joaquim Lobo, António Marques Janela, António Morgado Novo, José Lourenço, Manuel Marques da Silva, Manuel Egreja, António Marques, João Barbeiro, Manuel Pedro e Joaquim Pedro.

Não esqueçamos porém que cada um destes empresários tinha um grupo de resineiros mais ou menos vasto, conforme as propriedades florestais contratadas e exploradas, o que envolvia seguramente muitas dezenas de trabalhadores.

A indústria das resinas foi, a pouco e pouco, decrescendo pelas condições criadas pela concorrência internacional, acabando definitivamente a actividade dos resineiros em resultado da extensa área de pinhal ardida nos anos de 1991 e 2003, incêndios que destruíram de forma criminosa e impune a quase totalidade dos pinhais desta região, lançando na miséria as populações.


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