Blogue para a comunidade da aldeia do Castelo, concelho de Mação

CASTELO


A provável primeira referência ao Castelo, lugar da Beira Baixa, aldeia da freguesia e do concelho de Mação, é feita no “Numeramento do Reino” de 1527-1532, realizado no tempo de D. João III, que inquiriu o número e o nome das cidades, vilas e lugares e respectivos habitantes, expressos em fogos ou vizinhos, nas seis comarcas do reino. Aí encontramos referência ao lugar de “Azenhas” com 10 vizinhos, sendo também referidos entre outros os lugares de Caratão e Santos com 6 vizinhos, Pereiro e Azenha de Pêro Dias com 4 vizinhos.
A indicação deste lugar, já com o nome de Castelo, e não como Azenhas, é a do “Diccionario Geographico de Portugal “ – Inventário das Freguesias do Reino após o terramoto de 1755, com a finalidade primeira de quantificar e localizar os danos, aproveitando-se para ao mesmo tempo realizar o levantamento geográfico, caracterização e potencialidades das freguesias.
Para o concelho de Mação os dados obtidos referem um número de 1766 fogos, e uma população de cerca de 5520 pessoas, o que daria uma média de 3.13 pessoas por agregado familiar (no censo de 1991, a média era de 2.59 e no de 2001 era de 2.55 ).
Nele se indica que no seu termo tem dez lugares para além da vila que se chamam: “Rosmaninhal, Valle da Bella, Cabeças, Pereiro, Casas d’ Aquém, Castello, Arothea, Santos, Caratam e Casas da Ribeira.
Tem esta villa duzentos e noventa vesinhos, e o termo duzentos e vinte que fazem no todo quinhentos e dez vesinhos; e Pessoas mil e quinhentas e oitenta e huma”.

Pena é que neste importante documento o Vigário Pedro Rodriguez Mettelo não tenha descriminado o número de vizinhos e de habitantes por lugares, indicações que encontramos na maioria das freguesias deste e doutros concelhos.
Actualmente, a aldeia Castelo engloba os lugares de Arroteia, Casas d’Além, Casal Fundeiro, Castelo, Corga, Ledo, Sardoal e Tapada Nova.
De notar que o lugar de Casas d’Aquém deixou de ser referido por ter sido integrado no Castelo, surgindo o de Casas d’Além, do outro lado da ribeira, referência que ainda hoje se mantém.
Nos anos 50 o Eng. Arthur Tropa escrevia:
“Sobre as origens do nome “Castelo” pouco se sabe. Ao que parece, houve nos fins da 2ª Dinastia um recenseamento em todo o país. Havia no local onde hoje se encontra a localidade de Castelo, um pequeno aglomerado populacional de nome “moinhos” cujo nome derivava certamente do facto de os seus habitantes explorarem os moinhos movidos a água de moer cereais e situados todos nas duas margens do ribeiro do Castelo, afluente de margem esquerda da Ribeira de Eiras, onde corria água de uma nascente com débito muito regular situada a uma cota de 500 m de altitude até entrar na Ribeira de Eiras à cota aproximada de 300 m de altitude e num percurso de menos de 2 quilómetros. A maior parte destes moinhos, embora alguns já destruídos, ainda existem e são à volta de trinta, incluindo dois lagares (…). Todos estes moinhos alimentados a débito, trabalhavam como em série, isto é com a mesma água, aproveitando o desnível acentuado da encosta (…)”.
Com o crescimento da população tornou-se necessário, certamente nos fins do século XVII e princípios do século XVIII, construir casas de habitação mais afastadas dos moinhos e em locais de cotas mais altas e portanto mais enxutas, alicerces assentes sobre rocha. Por estarem a uma cota mais alta deve ter vindo daí o nome de Castelo.
Algumas dessas habitações ainda hoje existem e podem ser vistas no meio da localidade e todas elas têm primeiro andar para habitação, e no rés-do-chão lojas para os animais domésticos e para recolha de cereais e adega (…).”


A organização social destas comunidades beirãs assentava basicamente no núcleo familiar amplo, onde eram também incluídos os descendentes. Cada povoado agrupava várias destas células familiares, constituindo-se uma unidade supra familiar mais vasta, mas sempre com o parentesco como referência fundamental, pois os elementos do grupo presumiam antepassado comum.
Estes povoados eram na época romana designados de “castellum” – do latim castellu, diminutivo de castrum (castro), que significava praça-forte, refúgio, lugarejo nos montes. No Itnerarium Antonini Augusti, do século II d.C., são citados na Lusitânia vários topónimos “castellus”, sendo portanto lógico atribuir-se uma origem romana ao nome da povoação. Porém, ficaria por explicar o facto de ter tido outro nome, o de “Moinhos”, durante alguns séculos, para depois recuperar o de Castelo. Outra explicação, mais popular, pretende justificar este nome pela existência duma sequência de montes que rodeiam a povoação e que podem sugerir as ameias de um castelo.
Para além destas explicações, está ainda por confirmar, nesses tempos recuados, a presença significativa, fixa e continuada de populações, na zona do Castelo já que os achados arqueológicos encontrados apontam mais para ser este um vale de passagem, caminho natural de acesso do vale do Tejo para as zonas norte do concelho. Assim parece ter acontecido desde a pré-história até à actualidade.
Ficará portanto por esclarecer em definitivo a origem do nome desta aldeia, nome aliás bastante usual em locais e pequenas povoações no nosso país.
Para o estudo sobre a realidade desta localidade, relacionando-a sempre que necessário com os dados referentes ao concelho e à freguesia, será sempre de extrema importância o conhecimento dos factores que motivam as deslocações de pessoas ou grupos, determinantes nos movimentos migratórios, nas oscilações populacionais e nas alterações comportamentais da sociedade.
Ao analisarmos os dados referentes ao período de 1865 ao último censo realizado (censo de 2001), i.e. aproximadamente os últimos 140 anos, constatamos que existiu um aumento progressivo da população da povoação do Castelo, atingindo o valor mais elevado nos anos de 1940 a 1950, para seguidamente se verificar uma inversão muito acentuada dessa tendência, que se mantém até ao presente.
Ano de 1865 com 309 indivíduos; Ano de 1910 com 620 indivíduos (+311); Ano de 1930 com 592 indivíduos (-28); Ano de 1940 com 596 indivíduos (+4); Ano de 1960 com 520 indivíduos (-76); Ano de 1981 com 246 indivíduos (-274); Ano de 1991 com 174 indivíduos (-28); Ano de 2001 com 136 indivíduos (- 28).
Pelos dados indicados podemos concluir que nos últimos 60 anos a população residente diminuiu em 460 indivíduos, a que corresponde uma percentagem de 77.2 %, e nos últimos 20 anos a população residente diminuiu em 110 indivíduos, a que corresponde uma percentagem de 44.7 %. Contudo se analisarmos o número de nascimentos e óbitos, verificamos que os primeiros foram sempre em maior número que os segundos, pelo que não será essa a causa da regressão da população do Castelo e do elevado envelhecimento demográfico. Pensava-se que a causa residia quase exclusivamente na baixa da mortalidade, mas hoje temos a noção que o declínio da fecundidade e os fluxos migratórios internos e externos têm um papel bem mais importante no processo de envelhecimento de uma população.
Como foi referido no Castelo se sentiu de forma muito acentuada uma diminuição do número de habitantes, a partir dos anos 50, resultante das migrações externa e interna, para o Ultramar (em especial Angola), França, Alemanha, Lisboa e Barreiro. Estas deslocações duma população constituída essencialmente por assalariados pouco qualificados tinham características diferentes conforme fossem para o estrangeiro ou dentro do país. No primeiro caso são indivíduos jovens em idade activa, do sexo masculino, que procuram oportunidades de emprego fora da realidade nacional, muitas vezes “a salto”, deslocando-se inicialmente sozinhos – as famílias só posteriormente se lhes juntavam – regressando à origem após alguns anos de trabalho. No segundo caso, assentam na crescente atracção da área metropolitana de Lisboa onde, nas periferias, as famílias mantinham traços sociais da ruralidade de origem. Sendo áreas geograficamente mais próximas tiveram um carácter mais definitivo, e embora se esteja a verificar o regresso sazonal de algumas famílias após a aposentação, não alterando a residência oficial, esse facto não se reflecte nos dados estatísticos da zona em apreciação.
O processo de modernização (embora com grande atraso em relação ao resto da Europa) comportou a desagregação das ruralidades em favorecimento do desenvolvimento urbano e suburbano, o que motivou uma diminuição da actividade agrícola que vai perdendo peso no seio do mundo rural, e, posteriormente, a ruralidade transposta para a cidade pelos que para aí migraram vai sendo desvanecida com a afirmação das primeiras gerações de origem suburbana. Por outro lado vai sendo mais acentuado o fosso entre o litoral, com maior população, maior desenvolvimento, melhor acessibilidade e, teoricamente, com mais ofertas de trabalho e um interior despovoado, empobrecido e de difícil acesso.
Poderemos concluir que o aumento da longevidade e a continuação dos baixos níveis de fecundidade, aliados a grandes fluxos migratórios, foram e são os principais factores demográficos que explicam o fenómeno do rápido envelhecimento desta população e a rápida desertificação desta aldeia.

(continua)

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