Blogue para a comunidade da aldeia do Castelo, concelho de Mação

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(Continuação)

Sabemos que foi a partir do Concílio de Trento (1545 a 1563) que se determinaram como obrigatórios os assentos de baptismo, casamento e posteriormente os de óbito. Por isso os livros de Registos Paroquiais revelam-se de primordial importância quando se pretende realizar o estudo das populações, principalmente nos períodos anteriores a 1911.
Mas para além desses livros, outros existiam – o Rol dos Confessados ou das Desobrigas – tão importantes como os anteriores e uma preciosa fonte documental para estudos demográficos e para a história das povoações e das famílias. O Rol de Confessados era o arrolamento realizado pelos párocos dos seus paroquianos e onde se registavam todos os indivíduos que constituíam as famílias que habitavam nas povoações, indicando se tinham realizado a confissão e comungado nesse ano, no período da Quaresma.
Pelos dados do Rol dos Confessados, referente ao ano de 1865, o mais antigo que encontrámos, realizado pelo Vigário da “Egreja Parochial de Nossa Senhora da Conceição” de Mação, Fr. Francisco d’Assis Roseiro de Figueiredo, datado de 30 de Novembro desse ano, onde se “certifica que todos os descriptos neste Rol são meus fregueses e que não tenho mais e que todos cumpriram os preceitos annuais da Confição e Comunhão na Quaresma do corrente anno, segundo a sua idade e descrição, excepto um. Eu também cumpri os ditos preceitos”, podemos fazer a mais antiga e precisa caracterização da povoação do Castelo e da sua população residente.
A população era de 309 habitantes composta por 156 homens e 153 mulheres. Destes 309 indivíduos, 101 seriam menores de 15 anos (60 do sexo masculino e 41 do sexo feminino), 196 dos 15 aos 64 anos (92 do sexo masculino e 104 do sexo feminino) e 12 teriam mais de 65 anos (5 do sexo masculino e 7 do sexo feminino).
Distribuíam-se por 95 fogos o que daria uma média de 3.25 pessoas por fogo. Haveria 67 casais dos quais 23 não teriam filhos, uns por serem casais recentes e outros porque os filhos já teriam casado e saído de casa ou estariam ausentes.
Encontrámos 24 viúvos (5 homens e 19 mulheres) dos quais 16 a viverem sozinhos. Também sozinhos viviam dois homens (com 26 e 36 anos), no Castelo, e uma mulher (com 24 anos), no Sardoal.
Contabilizámos 143 filhos (78 do sexo masculino e 65 do sexo feminino) a viverem em casa paterna.
Ficamos ainda a saber que a povoação era composta pelos seguintes lugares: Arroteia com 3 fogos e 10 pessoas; Casas d’Além com 13 fogos e 41 pessoas; Castelo com 65 fogos e 205 pessoas; Corga com 6 fogos e 26 pessoas; Sardoal com 8 fogos e 16 pessoas, num total de 95 fogos e 309 habitantes.
Pela ausência de qualquer indicação sobre os actuais lugares da Tapada Nova, Casal Fundeiro e Ledo poderemos concluir que ainda não seriam habitados nessa altura.

Depois temos um longo período de tempo sem se encontrarem informações, até ao ano de 1910, com os seguintes dados: Casas d’Além com 23 fogos e 87 pessoas; Castelo com 116 fogos e 402 pessoas; Corga com 20 fogos e 88 pessoas; Sardoal com 14 fogos e 44 pessoas, num total de 173 fogos e 620 habitantes.
No ano de 1940 os dados são os seguintes: Castelo (inclui Casas d’Além e Sardoal) com 149 fogos e 474 pessoas; Corga com 28 fogos e 122 pessoas num total de 177 fogos e 596 habitantes.
No ano de 1960 os dados do censo são: Castelo (inclui Casas d’Além e Sardoal) com 150 fogos e 403 pessoas; Corga com 34 fogos e 117 pessoas num total de 184 fogos e 520 habitantes.
No ano de 1981 os dados do censo são: Castelo (inclui Casas d’Além e Sardoal) com 108 fogos e 219 pessoas; Corga com 19 fogos e 27 pessoas num total de 127 fogos e 246 habitantes.
Como referido anteriormente a partir dos anos 60 a população vai diminuindo significativamente e é um panorama completamente diferente o que encontramos para esta povoação no censo do ano de 2001, com 69 fogos e 136 habitantes, sendo 58 homens e 78 mulheres. Quanto aos lugares, a povoação do Castelo englobava Casal Fundeiro com 7 fogos e 12 pessoas; Castelo com 44 fogos e 93 pessoas; Corga com 6 fogos e 8 pessoas e Sardoal com 12 fogos e 23 pessoas.
Nesse censo a estrutura etária do Castelo distribuía-se do seguinte modo: Casal Fundeiro com nenhum jovem (0 aos 14 anos), 4 (1+3) em idade activa (15 aos 64 anos) e 8 (4+4) idosos (+ 65 anos); Castelo com 9 jovens (6+3), 44 em idade activa (21+23), e 40 idosos (13+27); Corga com nenhum jovem, 3 em idade activa (2+1), e 5 idosos (1+4); e Sardoal com 4 jovens (2+2), 7 em idade activa (3+4), e 12 idosos (5+7).
São exactamente estes dados que fazem aumentar os níveis de preocupação pois na povoação do Castelo em 2001 o índice de dependência é de 78 indivíduos em idade não activa para 58 indivíduos em idade activa, o que tem consequências directas quer a nível social quer a nível económico, uma vez que os valores correspondentes às idades mais produtivas começam a ser insuficientes para manter as populações dependentes.
Podemos ainda verificar que existiam 65 reformados e pensionistas. Da população em idade activa 40 tinham uma actividade económica, sendo 5 no sector primário, 6 no sector secundário, 26 no sector terciário, e nessa data 3 desempregados, existindo portanto na povoação 96 habitantes sem actividade económica

O censo de 2001 dá-nos ainda outros dados que ajudam a caracterizar esta população.
Dos 136 habitantes, 37 não sabem ler nem escrever ou seja uma percentagem de 27,2%. Dos 99 que sabem ler, 58 estão habilitados com o 1º ciclo do Ensino Básico; 12 com o 2º ciclo do Ensino Básico; 11 com o 3º ciclo do Ensino Básico; 4 com o Ensino Secundário e 1 com um curso do Ensino Superior.
Embora estes números não sejam satisfatórios, são contudo muito bons se os compararmos com os de décadas anteriores pois no Censo de 1981 dos 246 habitantes (219 do Castelo+27 da Corga), 171 (145+26) não sabem ler nem escrever, ou seja uma percentagem de 69,5%. Dos que sabem ler, 58 (57+1) estão habilitados com o 1º ciclo do Ensino Básico; 7 (7+0) com o ciclo Ensino Preparatório; 8 (8+0) com o Ensino Secundário e 2 (2+0) com um curso do Ensino Superior.
E se o fenómeno do envelhecimento da população e a desertificação desta aldeia não é um problema ainda mais grave é porque nos últimos anos um número significativo de “castelenses” que tinham saído, na procura de trabalho e de uma vida melhor nas cidades ou nas zonas suburbanas, ao atingirem a idade da reforma optaram por regressar ou pelo menos passam grande parte do seu tempo no Castelo. Restauraram as casas que eram de seus familiares e cultivam algumas das hortas que estavam ao abandono, mas ao não alteraram a sua residência oficial não serão contabilizados como população residente.
Esperemos pois pelos resultados do censo de 2011 para sabermos quanto regrediu a já diminuta população do Castelo.

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