Blogue para a comunidade da aldeia do Castelo, concelho de Mação

Azeite e Lagares



É nesta época do ano, mês de Novembro e princípios de Dezembro, com alguma variação de ano para ano ao sabor da vontade de “São Pedro”, que os campos se enchem de agitação com ranchos de familiares, amigos e vizinhos, que fazem a apanha da azeitona. Depois é o trabalho nos lagares, no encher as tarefas de azeite novo e a tradição das “tibornadas”.

Os testemunhos que resistiram à erosão do tempo, vêm provar de forma inequívoca a importância da exploração olivícola e do fabrico do azeite na região de Mação. Como é natural, a população, e em especial a do campo, sempre demonstrou um interesse muito especial pela oliveira que constituía a sua maior fonte de receita. Hoje, diferente é a situação resultante da diminuição e envelhecimento da população rural, do abandono dos campos, do avanço dos pinhais e dos incêndios que em 1991 e 2003 devastaram o concelho. Por isso as oliveiras foram ficando confinadas aos espaços das hortas coexistindo com outras culturas, como a vinha, produtos hortícolas e outras árvores de fruto o que permite uma exploração mais fácil e rentável dos terrenos disponíveis.

Tenha a oliveira sido introduzida, na península ibérica, pelos colonizadores gregos ou pelos romanos, cultura que os Árabes fizeram prosperar (azeite tem origem no vocábulo árabe al-zait, que significava "sumo de azeitona"), o que temos como certo é que foram os povoamentos da Beira Baixa, realizados nos reinados de D Sancho I e D Dinis, doadores de grandes áreas às Ordens dos Hospitalários e dos Templários, que resultaram num grande desenvolvimento dos olivais. Resistente à seca e de fácil adaptação aos terrenos pobres e pedregosos desta região, a oliveira tornou-se numa presença constante.
Encontramos referências aos lagares e ao azeite, no Foral de Belver – 1518 – onde D. Manuel I toma uma medida fundamental para a economia regional ao permitir que cada um possa levar sua azeitona onde melhor lhe convier, em vez de toda ser moída obrigatoriamente nos lagares dos Hospitalários, em Belver, diminuindo os rendimentos da Ordem mas fomentando a olivicultura nos Envendos, Cardigos (Bicheira) e Carvoeiro.
(…”E nos outros lugares do Emvendo, Bicheira, Caruoeyro fazendosse lagares em avondança mandamos que toda a azeitona dos ditos lugares se faça no lagar de cada hum lugar. E nam se lhe fazendo em abastança as partes poderam fazer lagares ou hyrem fazer sua azeitona omde lhes aprouuer sem outra pena nem coyma”…).
Igualmente no Inventário das Freguesias do Reino “Diccionario Geographico de Portugal “, realizado após o terramoto de 1755, o vigário Pedro Rodriguez Metello refere que na freguesia de Mação “os frutos que nesta vila se recolhem em maior abundância he aseite, vinho e castanhas” o que reflecte a importância que o olival teria nessa época.

Como no resto do concelho, também na aldeia do Castelo o olival foi durante séculos uma fonte de riqueza da população. No tombo de 1605 da Comenda de Santa Maria de Mação, existe referência a um lagar (um dos muitos existentes no termo de Mação), no limite do Casal do Castelo, junto ao ribeiro da Nave, na confluência deste com a ribeira d’Eiras e ribeiro da Ferraria, do qual eram donos o casal João Cristóvão e Margarida Marques, moradores no Casal das Azenhas, e no tombo de 1615, dos mesmos e do futuro genro, João Álvares, filho de Manuel Domingues do Vale da Mua, termo dos Envendos. Pretendiam estes o não pagamento dos três alqueires de azeite do tributo da “conhecença” à Comenda de Santa Maria de Mação, da Ordem de Cristo.
Esse mesmo lagar aparece ainda referenciado 160 anos depois (em 1776), tendo como proprietários José Lourenço e Manuel Lourenço moradores no Casal do Castello.

Hoje já não encontramos vestígios desse lagar nem de outros lagares tradicionais de varas, com carácter comunitário, construídos posteriormente, pois sofreram grandes alterações, adaptando-se a processos mais modernos e rentáveis.
Actualmente, no Castelo, existem dois lagares, um na Tapada da Lameira (adaptado de um antigo pisão) e o outro na Tapada Nova, ambos propriedade de associações de produtores locais. Estes lagares já funcionam usando um processo de esmagamento da azeitona em moinhos de martelos e não num moinho de galgas - duas mós verticais accionadas pela força da água - como antigamente. A pasta obtida, caldeada com água aquecida, é disposta nos capachos que empilhados serão sujeitos à prensagem, não sob a vara (tronco de árvore aparelhada, normalmente de carvalho) através do aperto do fuso, mas hoje realizada por potentes prensas hidráulicas.

Também nas décadas de cinquenta/sessenta acabaram as indústrias associadas ao azeite e à sua comercialização. Era o fabrico de artigos de esparto, as “ceiras” e os “capachos”, de impacto económico significativo no Castelo, primeiro com Luiz Alexandre, depois com o genro, Amílcar da Silva Marques. Igualmente, pela consulta das contribuições industriais (período 1920 a 1963), identificámos, no Castelo, António Egreja, Manuel Machado, Manuel Marques Lindo e Manuel Marques Morgado, como fabricantes e negociantes em azeite, o que parece indiciar que a produção era superior ao consumo das famílias da localidade.

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