Blogue para a comunidade da aldeia do Castelo, concelho de Mação

A “HISTÓRIA” DE LUIZ JOSÉ MARQUES DA ROSA





Em todas as terras existem personagens tratados com deferência sem terem aparentemente nada que os destaque dos demais, enquanto outros que deveriam permanecer na memória colectiva são esquecidos, só restando deles um nome, uma fotografia amarelecida pelo tempo para que não se perca na totalidade a lembrança de quem eram e que fisionomia tinham.
Quando procurámos saber quais os soldados do Castelo que foram à 1ª Grande Guerra (1914-1918), verificámos que no espaço de duas ou três gerações, esses acontecimentos tinham praticamente caído no esquecimento. Sabemos e entendemos que essas ocorrências deixam traumatismos que não se querem relembrados, que foram realizados em terras bem distantes e que, após o regresso, a dureza do quotidiano de uma vida de trabalho os tenha relegado para um segundo plano onde foram quase esquecidos.

Foi por isso com alguma surpresa que encontrámos os dados referentes a Luiz José Marques da Rosa, nascido na Corga do Castelo a 30 de Maio de 1892, filho de Manuel José Marques e de Maria Rosa, um casal de pequenos agricultores, como tantos outros desta aldeia. Tiveram sete filhos sendo o Luiz o segundo.
Era seu pai moleiro, pois encontrámos as contribuições até ao ano de1938 (faleceu a 3 de Dezembro de 1939), actividade a que o Luiz e os irmãos deram continuidade até ao ano de 1958.

Prestou serviço militar no Regimento de Infantaria nº 22 de Portalegre, regimento que à época recebia quase todos os mancebos do Concelho de Mação. Foi mobilizado como muitos outros do Castelo e embarcou a 20 de Janeiro de 1917 para França, fazendo parte da 5ª Companhia do 1º Batalhão da 1ª Brigada de Infantaria do CEP – Corpo Expedicionário Português.

Sobre ele encontrámos os seguintes registos:

– Ordem de Serviço do Batalhão, nº 184 de 20 de Julho de 1917.
“Louvado porque tendo chegado ao nosso parapeito uma patrulha inimiga de efectivo máximo de 20 homens, a repeliu à granada conjuntamente com um seu camarada, mostrando assim grande coragem, presença de espírito e revelando assim qualidades excelentes de soldado patriota”;

– Condecorado com a Cruz de Guerra de 4ª Classe, por Ordem do Corpo nº 195 de 19 de Julho de 1918;

– Promovido a 1º Cabo Miliciano em 12 de Novembro de 1918 – Ordem de Serviço nº 315 do Batalhão de Infantaria Nº 22;

– Ordem de Serviço do Batalhão, nº 32 de 1 de Fevereiro de 1919.
“Louvado porque num consecutivo serviço de dois anos de campanha pôs em evidência constantemente um notável zelo e uma pronta obediência no cumprimento de todas as ordens e serviços que lhe foram determinados, e manifestou ainda admiráveis provas de coragem e sangue frio em variadas operações de trincheira. A influência benéfica deste praça se deve sem dúvida e em grande parte à conduta irrepreensível e disciplinada que este Batalhão teve sempre ainda na última fase de operações”.

Acabada a guerra, o seu batalhão regressou a Portugal, tendo desembarcado em Lisboa a 28 de Maio de 1919.

Desmobilizado, retornou ao Castelo, para casa dos pais, até que em 19 de Maio de 1923 casa para a Corga, com Maria do Carmo Marques Janela de quem teve nove filhos – Manuel Joaquim, António José (faleceu com um ano), Albertina, Conceição, Maria do Céu, Deolinda, Joaquim, Maria Amélia e o António.
A Albertina, a Maria do Céu, o Joaquim e o António emigraram para o Brasil; o Manuel Joaquim e a Maria Amélia foram viver para a zona do Barreiro; a Deolinda casou para Belver, sendo a Conceição Marques Janela a única que ainda vive no Castelo, pois casou a 13 de Fevereiro de 1954 com José Lourenço, indo viver para o lugar do Ledo.
Faleceu o Luiz José no Castelo em 11 de Agosto de 1969.

Orgulhe-se pois o Castelo e não esqueça este “seu filho”, que terá sido provavelmente o único soldado do Concelho de Mação a receber uma Cruz de Guerra na Flandres. Em dois anos de combates contínuos e grande sofrimento soube ultrapassar as dificuldades, actuando nos momentos de perigo de forma destemida e heróica, como lhe é reconhecido nos louvores que recebeu.

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