Blogue para a comunidade da aldeia do Castelo, concelho de Mação

CASTELO - UMA TERRA (QUE FOI) DE RESINEIROS



 
Contavam os mais antigos que aqui o que havia era mato, castanheiros e oliveiras, e que pinheiros, só existia um na Lameira, para os lados da “Lagoa” que foi cortado para fazer uns teares para o Castelo, ficando o local a ser conhecido até hoje por “Teares”.

Mas foi nas primeiras décadas do século passado, em toda a zona circundante da aldeia, nas encostas dos montes, que foram crescendo pinhais dos quais era aproveitada a madeira e extraída a resina (para pez louro e aguarrás), principais fontes de receita das famílias que com esse dinheiro mantinham a casa durante o ano, pagavam as obras nas habitações e ajudavam os filhos quando casavam. A resinagem e a exploração de produtos resinosos tiveram, nos anos 40, um significativo incremento nesta região, pois foi a partir dessa data que o pinhal atingiu um crescimento que a permitia, embora o ciclone de 15 de Fevereiro de 1941 tenha deixado um rasto de destruição em que foram derrubados pelo vento grande parte dos pinheiros do Castelo.

O processo de recolha começou com feridas profundas, feitas a enchó, processo logo substituído pelo sistema Francês (ou de Hughes) em que as feridas eram pouco profundas e depois, nos anos cinquenta, pela resinagem química ou “à americana”, utilizando ácido sulfúrico, com vantagens na produção média por ferida (quase o dobro) e na menor “agressividade” para as árvores.

As operações de resinagem tinham o seu início em 1 de Março e terminavam a 30 de Novembro, mas o “descarrasque” podia iniciar-se logo em Fevereiro. Consistia essa preparação em aparar ou descascar a “estoura” (carcódia do pinheiro) no local onde ia ser feita a sangria. Depois colocavam-lhe as bicas, um rectângulo de metal, que servia de bica à resina, e espetavam as estacas, suporte para o “cacaréu”, o púcaro de barro vermelho.

Estava pronta a primeira fase da operação. Depois, já no Verão, era feita a “renovagem” que consistia em fazer uma ferida no pinheiro, de uns 9 cm de largura e 20 cm de altura. A partir desse momento a resina começava a cair para a bica e desta para o púcaro. Esta operação da renovagem, “ir à volta”, era feita de 4 em 4 dias no sistema francês e de 13 em 13 dias no americano, e a sangria ia sempre aumentando.

Quando os resineiros verificavam que as tigelas estavam cheias, procediam à recolha da resina para as latas e depois para grandes barris de madeira, colocados em locais certos, onde os carros, primeiro de bois, depois a muares e por último camionetas, os pudessem ir buscar com destino às fábricas de transformação. O transporte das latas pelos resineiros/resineiras era trabalho difícil e desgastante, só possível aos mais fortes: além do peso quando cheias, esgotante era o percurso com elas ao ombro ou à cabeça, por ladeiras íngremes, pelos montes pedregosos, sem caminhos…

Esta actividade teve no Castelo uma grande importância como se pode depreender pela extensa lista de habitantes do Castelo que pagaram contribuição industrial (grupo C) como empresários de extracção de seiva do pinheiro. Foram eles, Anacleto Pereira, João Dias, Joaquim Marques da Silva, Manuel Cêpa, Delfim Marques, João António Luís, Leal da Silva Dias, Manuel da Silva, António Barbeiro, Artur Lobo, Francisco Pina Dias Antunes, João Lobo, Joaquim Marques Morgado, Joaquim Mira Egreja, Manuel Morgado Novo, João Sebastião, Joaquim Lobo, António Marques Janela, António Morgado Novo, José Lourenço, Manuel Marques da Silva, Manuel Egreja, António Marques, João Barbeiro, Manuel Pedro e Joaquim Pedro.

Não esqueçamos porém que cada um destes empresários tinha um grupo de resineiros mais ou menos vasto, conforme as propriedades florestais contratadas e exploradas, o que envolvia seguramente muitas dezenas de trabalhadores.

A indústria das resinas foi, a pouco e pouco, decrescendo pelas condições criadas pela concorrência internacional, acabando definitivamente a actividade dos resineiros em resultado da extensa área de pinhal ardida nos anos de 1991 e 2003, incêndios que destruíram de forma criminosa e impune a quase totalidade dos pinhais desta região, lançando na miséria as populações.


2 comentários:

  1. Excelente trabalho sobre "Soldados do Castelo na 1ª Grande Guerra (1914-1918" será que é possível saber como obtiverem as FOTOS os ex-militares do CEP tal como consta do v/descritivo ? Gostaria de aceder a fontes que porventura tenham consultado se puderem indicar agradecemos.
    Parabéns pelas MEMÓRIAS VIVAS de tão NOBRE testemunho. Muito obrigado.Libanio Martins (Tm.: 96 390 2404).https://www.facebook.com/libanio.martins.7

    ResponderEliminar
  2. Olá Mário!
    Conheço essa tal de Maria Machado! Ela casou com o António Tropa Alves. Será que pode dar-me a morada deles? Precisava falar com eles.

    ResponderEliminar

Arquivo do blogue